tudo o que não pude,
que não tive,
que não consegui,
que fingi desimportante,
foi-me tendo sem carícia,
com indiferença amiga.
alheio às minhas falhas,
transformei um saco de ossos
numa caixa de caretas.
e pensei: será tudo isso nada?
serão nos meus pés unhas postiças?
então calei e procurei meu reflexo nas estrelas:
não vi nada.
então falei apenas para te dizer que sim:
você não estava.
quando percebi
que sendo tudo aquilo
que não era por apetite,
fome disfarçada de olhos quietos,
jurava a mim mesmo muralha intransponível.
“nada disso!” –
me desmentiram os olhos secos do pai,
enquanto se enterravam num estado de areia.
“vais morrer duro,
sem ninguém nem nada” –
profetizou meu coração através de falsas veias.
“segue adiante,
trata da tua forma como o moinho trata a água”
– me disse o hálito do poeta triste na virada da página.
e seus olhos me presentearam com certo branco fugidio.
"que faço desse branco, poeta?" – perguntei.
“faz dele teu destino” – ele escreveu na água.
poeta trágico,
que me observa agora
através desse branco sarcástico
que seguro firme nas pontas dos dedos,
sem saber o que fazer dele dentro de mim,
aqui me justifico:
se afundei a cabeça
na malha frágil do destino,
foi apenas porque muito me encantava
não ver o outro lado da minha muralha
para poder inventar meu invisível.
17.6.06
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3 comentários:
muito bom leo. duca
alvaro
é lindo, mas acho que o teu coração profetizou errado.
beijo
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