29.6.25

"para k. no dia do seu aniversário"


eu nunca poderia imaginar que,

no ápice de um ciclo desgraçado,

mas, na verdade, não de todo,

eu me apaixonaria por alguém

não por ser uma pessoa amável,

curiosa, um mistério, paz louca,

esfinge, musa grega, egípcia,

vênus de milo, esses delírios

infantis que costuram a carne

e perdemos conforme vamos

ficando mais perto da morte.

 

e quem diria que, meio velho,

meio homem, meio palhaço,

meio gengis khan, fecundaria

teus olhos com essa areia suja,

escalaria a tua duração úmida

no presídio dos meus braços.

 

no meu gulag de perseverança

serias tu catarina, gigantesca,

criança adulta, nariz-holofote

que viu na tímida fermentação

o desvio de um parapeito frio

que alcança o sol da meia-luz,

já que, deslumbrados, vimos

a luz na máquina entre flores

arrastando com nossos cheiros

as carcaças das nossas dúvidas

na colisão do que, aflito, treme

e se arrasta de um canto a outro,

na ponta de um mesmo segredo.

 

aquele que, quando perguntam,

esquecemos e, ao esquecermos,

sabemos melhor do que ninguém.

 

06 de junho de 2025

18.6.25

"meu coelhinho siciliano"


meu coelhinho siciliano

quer matar os alemães,

os persas e os turcos,

os franceses sobretudo,

os judeus e os nazistas.

 

meu coelhinho siciliano

diz que é um trapezista,

mas comprou um canivete

segundo ele, para crianças,

com um cabo azul picasso,

onde foi decalcada a morte.


meu coelhinho siciliano

faz som feio quando dorme,

não come, fala o tempo todo,

é adicto de tudo que é bom

e mata – está enlouquecido;

ele sempre foi mucho loco,

dizem os outros coelhinhos.

 

meu coelhinho siciliano

é o que chamo de baixinho

brabinho esquerdo-macho,

napoleão de falso penacho,

mendigo do pau mais lindo.

mas ele ainda não sabe

fazer a vida gozar.

 

eu tampouco sei, mas finjo

que ensino a ele, que finge

aprender e faz o que quer.

 

                       nos amamos assim,

meu coelhinho siciliano

                               e eu: fingindo

no que temos de melhor.