26.8.23

"ao velho abujamra"


tem os que digam

que sua real paixão

eram os cavalinhos.

 

a dentadura inglesa

santificava defeitos

para honrar sarjeta.

 

seu ódio ao lirismo,

suspensório arriado

nas coxias do medo.

 

exaurido de poesia,

largava ao coração

a labuta do pânico.

 

agora não encontro

uma alma sem hora,

uma rua sem medo.

 

levei um baita susto,

vi você sem camisa

comendo o cenário

como um canastrão.

 

me rogou uma praga

e previu meu futuro

com dentes de rato.

 

santa belinha do cru

milagre que te tenha!

 

agora fico nesse grilo:

não fosse a tua praga

e eu ainda teria cabelo.

 

mas nunca vi alguém

dizer “que bobagem”

daquele jeito só seu,

como quem desliza

num líbano de lama.

 

fecho os olhos, ouço

sua voz gritar “senhor

fazei-me rapaz casto,

mas não exatamente”.

Nenhum comentário: