pro iotti
não que eu goste deles,
mas também me constituem
como fazem os vermes
dos quais também não gosto
mas trago nas vísceras.
agora me exercito na esteira,
estou no shape, como se diz.
mas poeta tem que ser gordo,
você diz enquanto lê balzac
numa bicicleta ergométrica.
somos todos, poetas, bicicletas
EGOmétricas, mas talvez nosso
maior desafio seja mesmo ralar
a cara das palavras no cascalho.
poeta pode também ser aleijado,
ter dente preto, gengivite severa,
ou ser um quase morto de fome,
mas que o uso de drogas baratas
não permite saciar pois que arde
engolir além do que a vergonha
de não saber o que fazer às mãos.
você me diz tudo calmamente,
enquanto pedala até o infinito,
enquanto eu corro pela esteira,
sem me dar conta do noticiário
e da heroína da novela das oito.
pensando após, ao me alongar,
na sensação de ser uma heroína,
no prazer de um pico de heroína.
porque não os amo mas estão aqui
dentro de mim, no meu intestino,
tramando revoluções alucinógenas
na direção de um destino ordinário.