percebo que estão todos
insanos,
amo profundamente minha
vida
por alguns instantes
passageiros.
eu também, ao amar, não
estou
longe da insanidade, ao
contrário.
abro-me a ela então ela
opta por
alguém ao meu lado,
alguém mais
maduro, alguém que se
defenderá
melhor que eu neste
mundo cruel.
a insanidade,
comumente, escolhe
mais bem preparados
hospedeiros
do que eu poderia ser,
com minha
para todo sempre
confusa ideia do
que exatamente estamos
fazendo.
e quem sabe agora que
os sensatos
dizem não há mais
futuro com que
nos preocuparmos e iremos
todos,
loucos e sóbrios, para
a funda vala,
é justo que agora,
justamente agora,
os guias plácidos da
última década,
que miravam uma
fantasia gratuita
para que houvesse um
amor calmo
entre seres humanos de
fato únicos,
eu os veja
completamente pelados
agarrados ao velho
mastro de guerra,
uma velha guerra para
sempre perdida,
cegos na proa de um
navio amotinado.
seria justo pensar nisso
enquanto subo
a avenida angélica –
que nome bonito
para uma grande rua num
lugar onde
não se pode entender
mais nada então
vamos todos para este
lugar à procura
do que não se pode
entender em nós.
subo, portanto, a
angélica, que eu uso
como a espinha dorsal
do meu amor
por esta cidade que me
acolhe como
a baba de um camelo
sedento ao sol,
de um deserto
imaginário que convida
a todos os adeptos dos
livros velhos,
para gozar
elegantemente a dissolução
– o que ainda assim é o
amor e a sede.
subo atrás de novos
amigos e amigas,
quem diria você, com
idade de perder
os dentes e entender as
coisas da vida,
fazendo amigos num
lugar incomum
e não entendendo nada,
deixando-se
espancar docemente no
ringue da vida,
um cassius clay
bailarino das opções
brincalhonas,
finalmente não levando
quase nada muito a
sério a não ser este
que sempre será o
caminho que friza:
é preciso levar a corda
solta – e confiar
no burro silencioso dos
passos escuros.
é uma noite medonha que
mais uma vez
se anuncia e em nossas
entranhas vibra
talvez a nossa única
chance de perdurar.
por enquanto rasgamos
juntos as roupas,
no grande vazio onde assaltamos
os trens
em chamas rumo a lugar
nenhum, ainda.
bancos parecem lanchonetes, os parques
bancos parecem lanchonetes, os parques
são usados para
telefonemas de trabalho
enquanto eu tiro e
cheiro minhas meias,
piso os pés no chão e
me sinto preparado
como um brancaleone
capaz de se fazer
de morto, mas também de esperançoso.
lanchonetes parecem
bancos, aguardam
noutra esquina talvez os
ganchos que por
ora soltam tua carne
por outra mais fresca.
mas nos meus sonhos só vejo
as mãos que,
assustadas, agarram o
não sei que de vivo
que trazemos ainda em
nossas veias ruins.
outra vez lamenta
futuro a nova década,
não consigo pensar em
nada além de que
escapamos o tempo todo
e estamos juntos,
agarrados, não há outra
palavra, à suspeita
sintonia fina dos
nossos destinos a perigo.
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