para juca, mi madre
é importante agora
não ser inteligente
a ponto de suicídio.
a humanidade chegou
ao ponto em que viver
é a GRANDE MORTE.
assim
a única forma
de
não ficar triste
é
ficar muito puto.
tenho
um ano mais
do
que minha mãe
quando
ela morreu.
veja
bem não é triste
talvez
seja outra coisa:
ridiculamente
heroico.
como
se eu fosse
uma
criança
que também pode ser
o irmão mais velho
da sua própria mãe.
que
velhinha
você teria se
tornado?
estaria
ainda roendo
as
unhas enquanto
o
câncer não lhe
roia
as entranhas?
estaria
vibrando
em
silêncio bruto
com
os mapuche,
os
índios urbanos
à
linha do equador?
diante
dos mil
espíritos
sobre
sua cabeça
ancestral
rogando
dilemas
contra os guarani
que
era o seu povo
mais
que eu e que
meu pai
dois feirantes
italianos
a
quem você enviava
cartas
escritas
com
letras infantis
redondas como balões.
redondas como balões.
eu
espero ainda
por
essas cartas
feito
marco polo
esperando china.
esperando china.
mas
isso não poderia
ser
verdade e por isso
fica
bem neste poema.
agora me sinto
como
o pai de cristo
que no entanto
jamais
será deus.
com
muitas promessas
de
compra e venda
acabei
me tornando
essa
favelinha rural
nos
consórcios das
minhas
crises.
sopro-me
palavras
doces
de resistência
que
me atiram pedras
e transpiram
sorte.
na
avenida paulista
caminho
como
um índio
e
lembro de ti
guarani
a tribo traidora
mas
você dizia
é mentira
a
guerra suja
é
também
a guerra
mais
honesta.