é preciso, com ternura,
saber ser destruído.
não pendurar holofotes
ou o pescoço nos erros.
aprender a tremer
se for para tremer
e dançar com vidro
dentro dos sapatos.
tu agora andarás
pelas ruas como
quem procura algo
no chão, em tempo
vais reparar: todos
caminham assim.
um balão de gás hélio,
uma ternura,
vez por outra, em forma
de coração,
escapará à mão da criança
pequena.
pequenos seres que,
maiores,
vestirão no teu lugar a
coroa
de espinhos do teu
egoísmo,
das vezes que odiou
porque
não soube amar a ti
mesmo.
agora ainda será
possível esquecer
– das largas ruas
escuras da tua
esperança sem
parentesco virá
o velho vento frio da
paranóia
ao meio-dia da maior
escuridão.
nem de longe será a
primeira vez,
mas é a tua vez e é
sabido: pesa
sempre mais nos fracos
como tu.
nos que sabem no que
acreditar,
mas não sabem ainda
quem são.
e pensar que tu ainda
tens
dois gatos e um amor prometido.
é preciso saber escorar
a queda
no quarto fúnebre do
espírito:
saber teu destino de
alma parda
e tua falta de fome sem
pânico
já é sinal de manicômio
à vista.
o caos que se apresenta
é como
um bolo de chocolate
no paladar da tua
oferenda.
nada a dizer,
cansado de escutar,
um amor apenas.
com uma pedra acaricias
a nuca do teu destino.
é preciso estar
de olhos bem abertos
quando se perde a
visão.
mas não tem agora
tirésias
no refugo do tempo
escasso.
cada um de nós andará
sozinho
com cada um de nós no
bolso.
inventaremos novos
códigos,
talvez o fascismo ainda
tenha
algo incrível a nos
ensinar.
até aqui carregaste
contigo
uma hiena no peito e
apresentas
todos os membros
completos:
precisa ser suficiente
por ora.
delicadamente tu levarás
o tombo
sem poder ser ainda um
especialista.
fará girar com muitos
outros a corrente
lubrificada com sangue
quente e fezes
de poucas grandes
famílias louvadas.
é preciso, com ternura,
comer as fezes,
dirão em breve,
haveremos de tampar
os narizes e, fanhos,
cantar outra vez
a fraternidade entre os
seres humanos,
a boca sem feiúra da
fome aniquilada.
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