pai, retomei ótimas
obsessões.
agora, sem estar mais
bêbado,
voltei a me obcecar por
certas músicas,
por certas figuras,
minas e caras,
que simplesmente,
quando ouço,
me levam pra muito
longe e permaneço
por semanas ouvindo
suas músicas,
descobrindo uma a uma
suas músicas.
agora foi a vez desse
argentino, o spinetta.
tem uma apresentação na
qual ele entra
no palco sem camisa, um
perfeito esqueleto
e com os tamancos que –
eu me lembro –
você disse que todo
mundo usava igual,
homens e mulheres, e
ele entra com uma sirene
grudada nas costas
esqueléticas e toca o som
de uma sirene mesmo e a
banda é composta
pelo spinetta, um
baixista com lindos cabelos
e um tecladista
cabireca muito charmoso,
que me lembra mais você
do que os outros que
são muito mais novos e
lembram mais meus amigos.
na platéia argentina
dos meados dos anos setenta,
jovens com ascendência
indígena estão sentados
e balançam todos juntos
as cabeças cheias de cabelo,
os cabelos de toda uma
geração que ainda sonhava.
meu amigo viu o vídeo
comigo e me disse brother,
aqueles ali na platéia
sentados são os pais da gente.
daí eu só pude pensar
em você, com muito cabelo,
balançando a cabeça
junto com todos os cabelos
de toda uma geração que
ainda sonhava todos juntos.
tenho ouvido spinetta,
pai, e pensado em teus cabelos.
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