19.4.18

"os cabelos do meu pai"




pai, retomei ótimas obsessões.
agora, sem estar mais bêbado,
voltei a me obcecar por certas músicas,
por certas figuras, minas e caras,
que simplesmente, quando ouço,
me levam pra muito longe e permaneço
por semanas ouvindo suas músicas,
descobrindo uma a uma suas músicas.

agora foi a vez desse argentino, o spinetta.
tem uma apresentação na qual ele entra
no palco sem camisa, um perfeito esqueleto
e com os tamancos que – eu me lembro –
você disse que todo mundo usava igual,
homens e mulheres, e ele entra com uma sirene
grudada nas costas esqueléticas e toca o som
de uma sirene mesmo e a banda é composta
pelo spinetta, um baixista com lindos cabelos
e um tecladista cabireca muito charmoso,
que me lembra mais você do que os outros que
são muito mais novos e lembram mais meus amigos.

na platéia argentina dos meados dos anos setenta,
jovens com ascendência indígena estão sentados
e balançam todos juntos as cabeças cheias de cabelo,
os cabelos de toda uma geração que ainda sonhava.
meu amigo viu o vídeo comigo e me disse brother,
aqueles ali na platéia sentados são os pais da gente.
daí eu só pude pensar em você, com muito cabelo,
balançando a cabeça junto com todos os cabelos
de toda uma geração que ainda sonhava todos juntos.
tenho ouvido spinetta, pai, e pensado em teus cabelos.

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