17.2.18

"canis majoris"





e pensar que estamos lado a lado

neste grande peido galático,
que não demora muito
até que mudemos de ideia
e que o que fazemos aqui
uns com os outros
nada mais é que a mimese
de um constante ser pequeno
e ser imenso dentro de um ruído.

ainda assim dizemos
os méritos e o sintoma,
arcamos com imprecisões
de afeto que nos doem,
rosnamos a imperial
necessidade de um beijo,
porque esse fluido, essa gosma
têm de espirrar daqui até ali,
porque permanecemos a bílis
do pâncreas solar.

não temos na tristeza um álibi
para desespero – essa é nossa forma
de arriscar um passo no outro,
de rezar toda noite
por um beijo que perdure,
de torcer um pelo outro e pensar
que a gosma talvez faça um caldo
aos olhos de uma boa crença.

não retroceder ou avançar
– arruinar a marcha.

ah ser do tamanho de um peido!
um espasmo – importante dizer
(estar ali, ainda que pequeno)
o que nunca houve
de tão por dentro de tudo
que não será além de suspeita,
roda de tédio e fúria,
refugo, fosso, pedágio, faca.

cão fiel, a força não escuta
os gritos do sol, pobre coitado,
esse bicho que respinga fogo do focinho
é doce e triste como revelação da farsa,
a espera pelos irmãos que,
um a um, se morrem.

e galáxias giram indiferentes
sem resolver nosso problema.

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