2.7.16

“poema aos dentes decaídos de auxilio lacouture”





rugas pregam peças nas tuas vontades magnânimas,
estás sempre a caminho de um outro acontecimento,
não paras nunca, não caminhas a pés vistos, há lama
nas calçadas da tua inóspita decisão de se abandonar
a uma tentativa divergente dos hospícios e das curas,
mas és uma pedra no vaso microscópico de um pênis,
és tuas roupas de frio espancadas pelas engrenagens
de limpeza, que estão à disposição das nossas usinas.

tua nova pele expele a água cinza do primeiro rótulo,
tuas coxas sedentárias são pilastras imorais do tempo
em que corrias contra o vento e não pensavas ainda
nos dentes decaídos de auxílio lacouture, pilastras
verdadeiras do que se tomba por tamanha beleza.
agora teus heróis juvenis estão amargos ou mortos,
andas confuso com relação ao pedaço que deixaste
e o pedaço (assustadoramente frio) do que és ainda.

deixaste o que só seria possível se estivesses morto
e te inauguras aos trancos nesta inédita dimensão,
veja bem, ainda não sabes quase nada da primeira,
mas a vida sempre foi o braço ríspido empurrando,
as frases possessas que tornam os humanos frágeis,
a boca que pende diante do que se pendura suicida.
assustado tu escreves à máquina de óculos escuros,
esperando dissipar os vapores da terrível maravilha.

Um comentário:

Mateus disse...

Há um tempo me perdi na minha própria obra,
De quem diz ser bom, mas no fim se apavora.
A tempestade tão calma e, no cume, o profundo e a fonte.
O que te levas a pensar que poderia ser mais, mesmo que por eloquência
Do tempo? Pergunta a mim o meu eu nunca sido.
E o que na verdade eu seria? Se não tudo o que acredito
E nunca o que o real me impõe?
Talvez seja a tempestade a minha casa. Os mares e, claro, as praças.
Os viciados e os mendigos, são, na verdade, os burgueses e a verdade.
Verdade do que se diz eterno, em companhia sempre o vento e sustenta.
Não o que se tornam os burgueses, a solidão de sempre a luta
Para ter e nunca o saber de que já tem a si, e não o egoísmo.
De toda a forma, as muralhas que fiz em meus sonhos infantis,
Agora se voltam a mim, quando quero, justo subir para a superfície.
E posso ver, de verdade o tempo passar,
Como uma roupa velha eu me renovo em cada futurista
Que achar ser a antiguidade a solução para nova música.
Encontrei cavalos marinhos em minha jornada de sombras e empatia.
Ainda que ausente do mundo e do meu próprio,
Admito ter aqui conseguido muito. Os amigos e os velhos rabugentos.
O momento em que a doença se torna a maior noção de saúde,
As casas para mim o hospital e, na verdade, a rua, o próprio lar.

(fiz um poema em resposta ao seu, por ser a melhor forma de comentar uma resposta)