15.7.16

“meia-noite em buenos aires”


tua flor de aço
despeja bolhas
em meus pés.
nós corremos
tuas ruas como
se fôssemos
os pegadores
de carteira de
charly garcia.
urramos calos
e nunca será
a rua correta.
amar os calos:
afirmativa una
de nossa ruína.
repare, amor
aqui os gatos
gritam como
se fossem eu.

2.7.16

“poema aos dentes decaídos de auxilio lacouture”





rugas pregam peças nas tuas vontades magnânimas,
estás sempre a caminho de um outro acontecimento,
não paras nunca, não caminhas a pés vistos, há lama
nas calçadas da tua inóspita decisão de se abandonar
a uma tentativa divergente dos hospícios e das curas,
mas és uma pedra no vaso microscópico de um pênis,
és tuas roupas de frio espancadas pelas engrenagens
de limpeza, que estão à disposição das nossas usinas.

tua nova pele expele a água cinza do primeiro rótulo,
tuas coxas sedentárias são pilastras imorais do tempo
em que corrias contra o vento e não pensavas ainda
nos dentes decaídos de auxílio lacouture, pilastras
verdadeiras do que se tomba por tamanha beleza.
agora teus heróis juvenis estão amargos ou mortos,
andas confuso com relação ao pedaço que deixaste
e o pedaço (assustadoramente frio) do que és ainda.

deixaste o que só seria possível se estivesses morto
e te inauguras aos trancos nesta inédita dimensão,
veja bem, ainda não sabes quase nada da primeira,
mas a vida sempre foi o braço ríspido empurrando,
as frases possessas que tornam os humanos frágeis,
a boca que pende diante do que se pendura suicida.
assustado tu escreves à máquina de óculos escuros,
esperando dissipar os vapores da terrível maravilha.