aqui estamos nós, os
cercados, mais uma vez.
somos outra vez os sionistas
dos anos trinta.
somos outra vez o rapaz
de vermelho linchado.
somos outra vez a
quenga que deve morrer.
somos outra vez o
veneno dos dentes podres
de velhos eunucos e
suas mulheres cocainômanas.
somos outra vez os
curdos no topo da montanha.
somos outra vez a
execução do nariz de palhaço.
somos outra vez a
gangrena violácea do apuro.
somos outra vez a
tremedeira do ser em pânico.
somos outra vez o
caminho dos beligerantes.
somos outra vez, vai
acontecer outra vez ainda.
somos outra vez os
caracóis debaixo da pedra.
somos outra vez a
beleza do grito avacalhado.
somos outra vez a
memória curta dos umbigos.
somos outra vez as
mulheres com o grelo duro.
somos outra vez a
parabólica viral do coisa ruim.
somos outra vez os cães
de bandana vermelha,
sangue vermelho dos
cães de bandana vermelha.
somos outra vez os
corredores salivantes do ódio.
somos outra vez, há
quinhentos anos outra vez.
somos outra vez a
vergonha daqui a trinta anos,
um sísifo quando baixa
a guarda e cai de queixo.
Um comentário:
estou tentando comentar esse poema, mas acho que ele dispensa comentários.
é difícil sentir o que você deslinda nesse sufocamento de estrofes. parece uma longa bofetada.
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