17.7.15

“um momento definitivo e infantil”


para ismar tirelli neto
estou agora escrevendo
no computador da minha
namorada atual, quer dizer,
não sei se seria o melhor
termo para definir a coisa,
mas o fato é que é arrepiante
estar agora escrevendo
no computador da minha
namorada atual, quer dizer,
ela prefere é claro ser a mulher
da minha vida e morte inclusive
fizemos um pouco esses pactos
que lemos nos nossos melhores
livros da infância que ao lado
dos livros que lemos já velhos
parecem os melhores livros,
mas eu dizia outra coisa,
a vida tem disso, júpiter
maçã enquanto escrevo
no computador da minha
garota, acho que ela preferia
ser chamada “minha garota”
apenas, a mais improvável,
a mais difícil, a mais louca,
aquela que, se fôssemos
loiros nascidos em marienbad
e falantes como ventríloquos,
ou se este computador onde
agora escrevo fosse em mil
oitocentos e pouquíssimos
seria como se eu escrevesse
no seu diário as minhas ideias,
mas a alguns compete medir
a labuta por curva de lufada,
estamos aqui, apesar do amigo
que viaja em busca do frio,
escute amigo, estamos todos
de cuecas samba-canção,
com júpiter maçã, sorrindo
pois de todo modo não se sabe,
não se sabe muito sobre nós,
pense bem, meu amor, escrevo
agora para você – o que você
sempre reclama que nunca faço
e agora eu aqui, você no espelho
e mais um que migra para o frio,
enquanto você, toda torta e súbita,
é o forno do meu queixo trêmulo
diante do êxodo da nossa bússola.

Um comentário:

Isadora P. disse...

a arte de amar um poema e, ainda assim, doer pela representação de si nele...