5.3.15

"mãos recentes"


eu tenho mãos recentes,
elas tremem pela manhã
então tomo os remédios
e elas param de tremer.

reclamam da morada,
eu as mantenho juntas
sobre o peito antigo,
porque o peito é velho.

as mãos recentes se riem
dos dentes que se batem
na usina dessa orquestra.

é uma orquestra de ossos
de uma sonata recente,
mas não existe aplauso,
as mãos recentes negam
meus apelos tão velhos,
reclamam da morada,
desprezam este velho
(sou eu o velho recente)
como filhos que suplicam
para que os pais deixem
seus corpos nas esquinas
antes de chegar ao colégio.

aqui trocamos os tapetes,
mas a sujeira baila livre
porque as mãos recentes,
elas preferem não fazer
o desempenho da poeira.

dizem poeira é coisa velha,
querem rasgar as costuras
mas digo não há costuras,
somos nós daqui em diante.

é bem difícil convencê-las.
isso é tudo que elas me dão.

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