eu sou bom, pai, diz-me,
com teus olhos de cão,
diz-me que sou bom.
não suficientemente,
não com ligeireza,
não com astúcia,
não com pedras,
não na nossa língua,
não com piedade,
ou até com piedade,
mas diz-me sou bom.
ou tudo bem não digas
mas diz em teu sono,
sonhe comigo ainda,
sonhe comigo, pai.
você tem sonhado?
sonho que sou ator,
ensaio o sonho todo,
mas não apresento.
procuro sem olhar
a pele da vala comum.
relembro sem saber
o que nos fez assim.
não morrerei agora,
pai, diz-me isso então,
que não morrerei agora
e diz-me com força,
como se me aplicasses
mais uma de tuas lições.
sabes tanto, pai, e sei
que não sabes muito
do gatilho e da cabeça,
mas sabes o suficiente.
diz-me mais uma vez
que me sabes de mim,
que me gostas de mim
e, ainda mais ainda,
que precisas de mim.
não pelo erro feito,
mas pelo nome dado
da nossa pele comum.
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