para Belchior
o corpo não pode
encontrar seu lugar dentro do corpo.
é preciso tempo para se
apaixonar, é preciso esquecer
a violência de tanto
tempo, a solidão e a fúria, a pressa
de correr perigo acabou
por assentar os cascos de prata.
é no sul da alma que se
encontra o estômago do desafio,
o egoísmo de acumular
cifras como rastros dessa trilha.
um bandolim dedilha as
cordas do meu coração infantil,
o sol dos quintais aquece
o erro fugido às letras cifradas.
vazar o céu da filosofia,
romper o sono vínculo provável.
não imaginavam que se
pudesse fazer o que diz a beleza
daquelas tardes
apoiadas ao violão do rapaz sem nome.
resta agora chorar
dentro do carro, resta apenas o amor.
a riqueza encolhe o
ritmo da ancestral máquina humana,
um corpo cai de muito alto,
jamais atingirá o solo duro.
o corpo não pode
encontrar seu lugar dentro do corpo.
caindo do alto, procura
tocar-se, procura algo que, útil,
saia do seu caminho, desprenda-se
para fora do acerto.
a felicidade, foi dito,
é uma arma quente, no alto donde
cai o corpo está surdo
todo o perigo, aqui a ferida viva
na parede da memória
não conta mais os seus metais.
do alto dessa queda
haverá alguém com quem morrer,
longe da família o
familiar rebanho corre em muda paz.
cansado de não poder falar
sobre essas coisas sem jeito,
o corpo deixou a sessão
das cinco e o beijo sentimental,
o batom serve agora
para marcar os espelhos dos hotéis
conforme vai-se fazendo
a maior música, esquecimento
dos corpos atropelados
que não deram o perigoso salto
e ficaram como as
letras das velhas canções de outrora,
enjauladas pelo medo na
juke box de um boteco imundo.
o corpo não pode
encontrar seu lugar dentro do corpo.
o corpo vem de uma
terra onde o céu é o próprio chão,
o que chama alma se
entortou junto ao bagaço de cana,
garotos esperam por nova
aparição em teatros-fantasma,
suam os versos de um
tempo apodrecido de anteontem,
ficaram para trás paralelas
nos estacionamentos da rima
e os antigos
compositores baianos tornaram-se inchados,
protegidos pelo bolor
dos festivais da canção onde vaias
são agora velhas
senhoras nas salas de cinema das tardes.
tomba o corpo
horizontalmente e seu prelúdio infanticida
são agora as cutículas
de uma ordem infestada pelo brilho
da tinta acrílica no
bigode branco de um homem que vê
e agora fala o grande
amor o sinal se abriu para o musgo
e as músicas são
caixas de poeira na beleza da pista falsa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário