Hoje morreu Oscar Niemeyer e, no entanto, aqui escrevo para você. Talvez o fato de ter morrido Oscar Niemeyer, depois de tanto tempo, seja justamente o que me faça escrever para você. Existe uma morte imperiosa que cerca nosso maravilhoso acontecimento. Sinto-me como um homem da capital, que sente “a vida em toda a sua plenitude, em toda a sua fragilidade”. E eu sempre tive uma certa tendência a fogueira, então dá-me palha.
Existem coisas mais
absurdas que a morte de Niemeyer, que, aliás, é um dos acontecimentos menos
absurdos de que se tem notícia. Eu e você, por exemplo; que absurdo é
poder dizer “que absurdo somos eu e você”.
Porque sempre há algo
que ensurdece quando o amor é jovem. E ainda somos jovens, eu reparo,
veja bem como andamos pelas ruas, deixando escorregar às vezes timidamente as
mãos entrelaçadas como quem não é capaz de admitir completamente que é feliz; como
você é sempre quase atropelada porque eu ando rápido demais e me enfio
entre os carros – ah! existe muita coisa aí, nesse acompanhar uma possível
morte a dois entre carros indiferentes – e você vê, meu bem, como todos os
carros têm este sombrio propósito de, quase nos acertando em cheio,
louvar nosso difícil e renascido encontro a cada esquina.
Desculpe, mas não posso
admitir sem gargalhar como um louco. Ainda sou muito novo para ser completo,
talvez eu ande como quem está atrasado para algo porque, de fato, eu talvez
esteja atrasado para muitas coisas. Se pudesse, pediria que você me ensinasse a
passear. Seríamos então uma das curvas das quais é feito o universo curvo de Einstein.
Esqueci por completo se um dia tive algum talento, mas ainda não me sinto nem
um pouco desesperado, a não ser quando penso que não preciso mais de nada
porque tenho você, porque você me tem. Então a coisa fica mesmo apavorante
quando me dou conta de que me tornei um tipo capaz de assistir à novela das
oito e fazer breves comentários como “ela não deveria ter feito isso” ou “abre
logo, seu babaca”. A questão é: apenas no amor existe a mudança. Estou disposto
a mudar, ou melhor, me jogar de vez no que relutei em considerar “a verdadeira
vida”. Sim, ficaremos apavorados, mas, meu deus, você tem todas as caras, todos
os modos sutis e violentos de mexer as mãos e espremer os olhos e abrir sua
boca imensa e alisar minhas vontades e me olhar no banco do ônibus enquanto eu finjo
que não te vejo. E mais uma vez lembro de supetão que hoje morreu Oscar
Niemeyer, o arquiteto. Morreu Niemeyer e eu estou vivo, então decidi escrever
para você, justamente porque morreu Niemeyer, às vésperas de completar 105
anos, e eu estou vivo, vivo! Não vamos dar nome algum a isso. Vamos.
2 comentários:
Que coisa linda, Leo. Beijos.
MM
lindo Leo.
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