12.4.12

“os problemas da minha garota”

minha garota tem problemas
que eu não posso resolver.
como dizer, deus, à minha garota
que eu não sei mais nem quais são
os problemas que tenho eu mesmo
que resolver para comigo e logo?

falaríamos então sobre pontes
de amor desde um até o outro
como faria Le Corbusier ou Wright
mas jamais minha garota e eu diríamos
que as pontes do amor são pontes
que passaram por longas guerras
que derrubaram homens, famílias
que ergueram bandeiras rasgadas
não falaríamos jamais que pontes
são coisas que sempre vêm abaixo
porque é natural da ponte apresentar
o que poderia ser elevado por estética
mas cai por terra porque é tentativa
precisão de ganhar tempo mas tempo
é bem mais a coisa do amor, a ponte
entre o que vai se já não tivesse sido
a marca da nossa tentativa, a grandeza
de nossos mais estúpidos atalhos
a notícia aterrorizante de que um senhor
francês ou americano pode medir espaço
entre duas coisas que afinal, se estão
apresentadas como a medida da ponte
é que a ponte tem mesmo é que cair
vir abaixo para provar tão somente
que a medida do amor não cabe, nunca
caberá no espaço entre dois sentidos
mas disso jamais falaríamos nós dois
nunca das fugas apaixonadas, mortais
caprichos do que se faz afinal vivo
justamente porque entre escombros
esfrega-se os olhos e lá está a ponte!
mas minha garota tem problemas
que não posso resolver, não cabem
nas resoluções fórmicas da literatura.

com os problemas da minha garota
ganhei problemas que fogem ao ato
da criação seja de qualquer espécie
(artifícios de alcova – serão celestes?)
mas minha garota, ela não esquece
que na verdade nem é minha garota
e este é um problema que eu nunca
poderei levar até ela numa ponte.

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