14.3.12

"um morto como outro"

você me deixa nervoso
querendo fazer música
como se fosse mamunia
e não gosto de paul mc
acho ele bobo enrolado
por mulher como meu
próprio pai e no fundo
olhar para paul significa
pensar: serei eu assim?
e imediatamente mexo
a cabeça como um louco
e não sou louco meu pai
é mais louco do que eu
e foi e é bem mais fácil
de enrolar do que sou
mas ainda assim pouco
importa esse assunto
frágil que é irreversível
gosto do meu pai gosto
de ti como do meu pai
estranho modo de dizer
te amo mas nunca há
o modo melhor disso
então direi você deixa
meus nervos acessos
e você sabe o que sou
durmo pouco e finjo
que tenho insônia
não sei falar e falo
muito e além do mais
quero sim uma mulher:
que tiro certo você
deu e será se dará
uma chance única
a quem mal sabe
como é mas gosta
da maneira como
é dito por alguém
que diz “lindíssimo”
quando se despede?
irei até tua música
morto irei até você
e você me receberá
morto como outro
qualquer que tenha
pele e coisas a dizer
e sem dizer um “ai”
tentarei dar a mão
porque minha fé é
sempre dar a mão
e temo tua astúcia
como temo os teus
cabelos e o sotaque
que não parece mas
é do interior de s.p.
e que lindo seria s.p.
fosse um desodorante
mas não é eu não sei
nada sem atropelos
meu pai é assim até
onde sei minha mãe
ela era pura dinamite
mas voltemos a falar
de você que vi um dia
também em mínimas
fotos de pé mão sorte
uma mulher desistente
nenhuma sorte eu sou
artêmis a cruel e voraz.
bom era mais fácil rir
mas o que não é amor?
pode ainda ser convicto
fugir para longe e ser
apenas o infanticídio
radiografia dum corpo
virtual em cebola crua
é preciso ir eu preciso
sem precisão ter você
não é coisa de carência
acontece isso acontece
termos uns nós na alma
falarmos demais é cedo
melhor falar mais tarde
porque o que acontece
nunca fala nós falamos
e quando falamos há
aquelas velhas cidades
cidades de sêmen nada
e frases que não dizem
respeito a nós errados.

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