desconfio deus montando
embaixada à porta do banheiro. Desconfio
deus uma pedra com eco, desconfio deus
um novelo de lã nos confins de sob a cama. Não estou morto.
Não das mãos desse sujeito. A carne
do que se diz está bem longe, mas cumpre atentar:
tampouco se trata duma mentira. Fazemos o que
fazemos pelo elástico da coisa. Estes quartos, em nenhuma
ordem particular. Nada deve permanecer
que seja meu. A repentina exigência do hospital azul
frente ao edifício. Meus passos estranguladamente lentos
antes de te deixar, fosse eu o assassino
*esta e outras pérolas estão no Ramerrão (7Letras), livro do ano, quiçá da década, a ser lançado hoje na Travessa do Leblon, a partir das 19h.
31.5.11
24.5.11
"porto alegre - dia das mães - 2011"
dessa vez, Porto Alegre, você me passou a perna direitinho.
depois de algumas catástrofes, o sol brilhou por alguns dias,
tirando o mofo dos casacos sempre fechados no escuro seco
das nossas imagens compartilhadas, a ferro, susto e tabus.
o sol brilhou por alguns dias e, estou perfeitamente convicto:
a poluição é o que deixa o pôr-do-sol no Guaíba mais bonito.
atravessar a rua sem pernas, flutuando num caldo alcoólico,
tornou-se algo que até mesmo uma criança é capaz de fazer.
aceno, nas ruas, para meninas de tranças, índias Charruas
da minha mais funda origem, e pela primeira vez vejo os dentes
de minha mãe morta, perfurada pela primavera dos excessos.
bom estar pela primeira vez de ouvido aberto em Porto Alegre.
um homem gordo, de gordas e fascistas batatas da perna, boina,
passa com seu passo de holocausto, aproximando-se de mim,
enquanto estou próximo ao lago, alimentando meus ímpetos.
mas estou atento e calmo dessa vez, jogo lento minha droga
por terra, enquanto passa por mim o sentinela-cidadão-comum,
dá uma olhada para o lago e vai embora sacudindo os mortos.
sigo chutando os pinhos secos, desviando dos preservativos
do amor moderno e das seringas do êxtase capaz de matar,
e que é o único êxtase concebível, o êxtase do mais-que-tudo.
existe algo íntimo e um tanto patético no Parque Farroupilha,
algo que abre meus pulsos, me envergonha e comove muito:
uma zona central com um grande chafariz, um campanário
que é uma réplica chinfrim do Jardim de Versailles e, acreditem,
um Arco do Triunfo, mas por ali passam bichas heterofóbicas
com seus cachorros magros e passam salazares e antigas
mães italianas e um casal briga ao meu lado, e o homem diz
à mulher dele uma frase, mas essa frase, claro, é para mim,
que sou todo ouvidos aéreos e pés firmes no chão de Porto Alegre:
"tu fica te escalando pra fazer as coisas e depois fica te fazendo",
e este sou eu, esta é minha cidade urso de infância, sem deus.
depois de algumas catástrofes, o sol brilhou por alguns dias,
tirando o mofo dos casacos sempre fechados no escuro seco
das nossas imagens compartilhadas, a ferro, susto e tabus.
o sol brilhou por alguns dias e, estou perfeitamente convicto:
a poluição é o que deixa o pôr-do-sol no Guaíba mais bonito.
atravessar a rua sem pernas, flutuando num caldo alcoólico,
tornou-se algo que até mesmo uma criança é capaz de fazer.
aceno, nas ruas, para meninas de tranças, índias Charruas
da minha mais funda origem, e pela primeira vez vejo os dentes
de minha mãe morta, perfurada pela primavera dos excessos.
bom estar pela primeira vez de ouvido aberto em Porto Alegre.
um homem gordo, de gordas e fascistas batatas da perna, boina,
passa com seu passo de holocausto, aproximando-se de mim,
enquanto estou próximo ao lago, alimentando meus ímpetos.
mas estou atento e calmo dessa vez, jogo lento minha droga
por terra, enquanto passa por mim o sentinela-cidadão-comum,
dá uma olhada para o lago e vai embora sacudindo os mortos.
sigo chutando os pinhos secos, desviando dos preservativos
do amor moderno e das seringas do êxtase capaz de matar,
e que é o único êxtase concebível, o êxtase do mais-que-tudo.
existe algo íntimo e um tanto patético no Parque Farroupilha,
algo que abre meus pulsos, me envergonha e comove muito:
uma zona central com um grande chafariz, um campanário
que é uma réplica chinfrim do Jardim de Versailles e, acreditem,
um Arco do Triunfo, mas por ali passam bichas heterofóbicas
com seus cachorros magros e passam salazares e antigas
mães italianas e um casal briga ao meu lado, e o homem diz
à mulher dele uma frase, mas essa frase, claro, é para mim,
que sou todo ouvidos aéreos e pés firmes no chão de Porto Alegre:
"tu fica te escalando pra fazer as coisas e depois fica te fazendo",
e este sou eu, esta é minha cidade urso de infância, sem deus.
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