28.10.10

"a crina de mariana"

mariana, você pôs tudo a perder.
eu era apenas um sujeito surdo
arrasado pela justiça e assado
pelo tempo, e tinha tremeliques.
não havia muito espaço entre nós
e, ainda por cima, eu era um cara
puro de espírito, com tremeliques.
mariana, você não soube esperar
pela majestade que não se revela
na verdadeira fonte da felicidade.
andávamos de mãos dadas, víamos
as garças na Praia da Urca, e você
adorava o efeito das minhas coxas
no teu segredo raro entre as pernas.
outro dia te vi, mariana, sem a crina
pela qual você ficaria mundialmente
conhecida dentro de mim, sem crina
você me pediu “escreva um poema
para mim, como fazia antigamente”,
e eu disse “mas sobre o que eu posso
falar que já não tenha falado antes?”
“quem falou: aquele que mais ama é
subjugado e tem que sofrer?", você disse.
“não sei, Thomas Mann?”, eu respondi.
“sim, e o que você disse, você lembra?”,
ela disse, e eu: “não lembro, o que foi?”
“pelo menos, você terá amado mais”,
foi isso que eu disse, e ela queria saber
o que eu lembrava e eu me lembrava,
mariana, da sua crina encaracolada,
primordialmente da sua crina isenta,
como já não somos mais, e agora nós
estamos aqui de novo, e você me pede
um poema, lembranças, e são algumas,
mas nada como era a crina de mariana,
e não entristeça, mariana, porque eu disse
que sem a crina você parecia até mesmo
uma dessas apresentadoras de tele-jornal.
eu amaria a apresentadora de tele-jornal,
com sua sexualidade vazia, cabelo curto:
mas não como amei a crina de mariana.

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