somos todos índios, somos todos os futuros
animais caçados por animais que serão a caça,
e eu agora sou bem mais um bicho preguiça,
um porquinho da índia meigo, e será difícil
que algum humano queira me ter como caça,
pobre de mim, coala sentinela fúnebre, olho
semi-cerrado, girando súplice pela passagem.
29.8.10
27.8.10
"hemingway"
pouco importa se inventamos reis,
odres de vinho, generais inexistentes.
importa apenas manter os cavalos
nas rédeas dos acontecimentos.
e, vestidos de mulher, estamos
nas frentes sangrentas que nos
arrancam quase a perna, nos dias
de selvageria e presunções mitológicas,
nas orgias emocionais submarinas,
e pouco importa que a carne agora
seja bem menos uma prova de vida
e bem mais uma forjada vitória fácil.
não queremos a verdade, queremos
poucas palavras, rasas e farpadas,
porque no fundo sabemos, sentimos:
temos medo, e o cano na têmpora.
odres de vinho, generais inexistentes.
importa apenas manter os cavalos
nas rédeas dos acontecimentos.
e, vestidos de mulher, estamos
nas frentes sangrentas que nos
arrancam quase a perna, nos dias
de selvageria e presunções mitológicas,
nas orgias emocionais submarinas,
e pouco importa que a carne agora
seja bem menos uma prova de vida
e bem mais uma forjada vitória fácil.
não queremos a verdade, queremos
poucas palavras, rasas e farpadas,
porque no fundo sabemos, sentimos:
temos medo, e o cano na têmpora.
9.8.10
“auschwitz”
sinto orgulho dos meus dedos feios,
que um dia foram bonitos, mas que
coisa mais incrível de sentir orgulho,
sobre o orgulho dos dedos tão feios,
hoje são feios, vividos e feios, vividos
de pôr abaixo as paredes retroativas,
são dedos feios, mas com belos nós –
e finalmente eu me orgulho: colhedor
de cenouras polonês, sabão humano.
que um dia foram bonitos, mas que
coisa mais incrível de sentir orgulho,
sobre o orgulho dos dedos tão feios,
hoje são feios, vividos e feios, vividos
de pôr abaixo as paredes retroativas,
são dedos feios, mas com belos nós –
e finalmente eu me orgulho: colhedor
de cenouras polonês, sabão humano.
"poema para meu amor"
há uma ponte de safena entre nós,
e o problema, baby, é que ela nasce
de um aborto cultivado, a poesia é
uma outra coisa e, talvez, ela possa
também ser má comigo, com o que
chamamos de Nós Dois Juntos, ela
nasce do sangue excessivo que nos
joga na vida sem veias – e, é lógico,
é possível amar ainda, faremos isso,
mas se vive da poesia, vá perguntar
ao safenado – e a poesia, meu bebê,
é uma outra coisa: as bases hesitam,
há uma ponte de safena entre nós.
e o problema, baby, é que ela nasce
de um aborto cultivado, a poesia é
uma outra coisa e, talvez, ela possa
também ser má comigo, com o que
chamamos de Nós Dois Juntos, ela
nasce do sangue excessivo que nos
joga na vida sem veias – e, é lógico,
é possível amar ainda, faremos isso,
mas se vive da poesia, vá perguntar
ao safenado – e a poesia, meu bebê,
é uma outra coisa: as bases hesitam,
há uma ponte de safena entre nós.
"tom zé (fatal) sobre gal costa"
sabe uma faca me rasgando,
um mundo se acabando, num sei,
Gal Costa cantora, Gal Costa a mulher,
a mulher terrível, a mulher linda,
a noiva, a morta, a viúva , a maravilha:
é muito difícil falar essas coisas,
eu não sei, a Gal Costa sempre me trata
com choques elétricos, e eu chego pra ver
ela e me arrebento por ela e me desarrumo
por ela, não sei, é sempre surpreendente,
eu nunca sei o que vai acontecer, e cada vez
é como a vida (sic) tivesse se partindo,
se começando, se acabando...
Gal Costa é muito maravilhosa (risos).
3.8.10
"o fino da nata de Karl Kraus"
Existem imbecis superficiais e imbecis profundos.
A minha linguagem é como uma prostituta qualquer que eu transformo em virgem.
Os mais falsos argumentos podem mostrar um ódio correcto.
Só é artista aquele que é capaz de transformar a solução num enigma.
O diabo é um otimista se acredita que pode piorar as pessoas.
A diplomacia é uma partida de xadrez em que os povos levam xeque-mate.
O segredo do demagogo é de se fazer passar por tão estúpido quanto a sua plateia, para que esta imagine ser tão esperta quanto ele.
O génio só pode compensar o defeito de provir de uma família não deixando nenhuma.
O amor e a arte não abraçam o que é belo, mas o que justamente com esse abraço se torna belo.
1.8.10
"The Alps" (Richard Brautigan)
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