28.4.10

"longfellow"


os dedos dos pés com largas cascas de pele morta,
as duas mulheres mortas, por azar e por incêndio,
seguindo o dedo mais rígido, logo acima, um não
muito largo, mas fundo, manancial de pus recente,
todo em estado cor de rosa por rápida cicatrização,
e seguindo o nosso pobre diabo pelas duas pernas,
depara-se com duas crostas duras, em cada joelho,
crostas duras sobre duras crostas, de certo o local
mais avariado, mas já tudo tão antigo, fossilizado,
placas tectônicas das súplicas do amor animalesco,
e subindo mais um pouco, a coxa estirada, por não
suportar a corrida, além de tudo, no meio do tórax,
a porta fechada com linha para um câncer – já este
não voltará mais – e no lombo direito, duas marcas,
dois dentinhos de gato, marcas frescas e inflamadas
como a noite do primeiro tombo, quando ainda não
sabíamos: deve-se bastar-se, eis tudo que nos resta,
e drogar-se um pouco, talvez, e morrer de incêndio.
foi um anjo que nos trouxe magros e adeptos à dor,
à flecha e à música – depois levou as flores embora.

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