3.4.10

"jesus"

você talvez fosse um daqueles hippies sujos
que vendem miçangas e sorriem melhor que nós.
provavelmente você era olhado pela maioria
como olhamos os mendigos que se arrastam pelas ruas
contando os próprios dedos e com os membros íntimos à mostra,
ou o doido a quem chamam doente e apontam às gargalhadas,
o que foge para cima das colinas desérticas, e ah!
como vejo você causando náuseas na normalidade obesa,
olhado com os olhos de nojo com que nós, os sãos, recebemos
os estranhos maltratados pela própria fé.

e agora aquilo que você talvez tenha dito,
apenas amem uns aos outros e também aos inimigos
e aos fracos e necessitados, suportem a humilhação e a dádiva
com o mesmo sorriso sereno no rosto marcado pela volúpia do poder,
agora tudo isso que você disse, sem ter muito a quem dizer,
talvez seja isso tudo contrário ao que vivemos em seu nome.
e rezamos nossas anedotas diante de um mundo sem espanto,
e nos estabelecemos em seu nome deliberadamente enclausurados
em nossas próprias cruzes, e temos tanto de Judas, de Pilatos,
que não posso admitir que somos filhos do mesmo pai.

você foi o galã canastrão de carreira meteórica,
Chaplin sem o talento disfarçado dos nazistas
– e sem nada nós apenas dizemos amem.

3 comentários:

Liz de Gaia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo H. Sanjaya disse...

você é bom cara.

JuliaD disse...

Acho o conceito geral meio derivativo (Jesus como hippie mendigo, "nós entendemos tudo errado do que Ele disse") mas está bem dito.