31.3.10

"vinte e oito"

agora desces do ônibus e em poucos segundos
estás encharcado, com a mala de roupas na mão,
mas ainda assim acendes um cigarro e permites
que o cigarro enfrente a chuva contigo, pobre
cigarro, com gotas grossas sobre a brasa frágil,
mas apenas andas lentamente porque a chuva
já não assusta mais, é parte fixa de um presente
ao qual te acostumaste – então chegas por fim
a uma casa que não é a tua casa, não tens casa,
mas tens a chave desta casa, giras a chave, não
falas muito mais agora, acendes outro cigarro,
estás finalmente acostumado com o ritmo vazio
que te faz tremer as pernas, portanto te lanças
ainda molhado, sem nenhum frio, sobre a cama
que não é a tua cama, mas só no que não é teu
és agora capaz de fechar os olhos para revirar
sonhos dos quais não te lembrarás mais no dia
seguinte e pensarás: “não lembrar dos sonhos,
deve ser isso o que se chama envelhecer mal”.

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