6.9.09

"a caça ou domingo de chuva"

viver é perder mais do que se sabe
e ganhar menos do que se inventa.
difícil guardar a sensação do vôo
rasante e ser ao mesmo tempo presa
fácil – e eu confesso que tenho
em mim a inclinação monstruosa
de colocar lugares em toda coisa,
amputar as asas e pular em branco
sobre as nuvens de uma consciência
provisória de chuva domingo à tarde.
depenar as palavras que dissolvem
antigas ruínas, fundamental gaiola
que, ao contrário, é fuga, idéia rala,
sensação do tempo em que as asas
batiam com violência, pele no ritmo
do susto que antecipa o real abate.
mas as presas então estavam vivas
e a caça não era uma prática ilegal.

Um comentário:

natércia pontes disse...

hello, hem caçador
- por causa dele entendi meu pai - finalmente pude ler trechos do seu livro, como quem abre uma ave amansada. lindo demais, a ideia, as palavras, a atmosfera, menos a capa - sou chata. a chata vai viajar, quem sabe nao pinta na volta da jurema carioca? beijo e saudades e congratulações pelas pequenas biografias não autorizadas.