7.8.09

"cotovelos"

não mais escrever com os cotovelos.
não que seja exatamente uma falha,
é um querer estar longe dos braços,
que tramam corrupções metafísicas.

nessa manhã fria de julho, o vento
faz uma torcida ansiosa por sangue.
acendo um cigarro por indiferença,
rasgado do corpo, longe dos sentidos.

sigo em voltas infinitas e, sem porto,
trago fundo o que jamais realizarei.

serei aquele que pede com os olhos,
que sente passando a oportunidade?

sinto ganas de dizer “então vamos”,
mas sei que ficarei parado, ao lado,
uma mulher a quem prometi coisas
liga a televisão, fecha porta: fuma.

não suportamos o cigarro e fumamos.
resta dizer “em frente”, ir para o lado,
engolir à seco a centopéia já sem vida.
ganas de dizer qualquer coisa do azul.

versos tristes e sem ritmo não falam
da dor do que separa, permanecendo
fora da cama, com olhos arregalados,
colhendo os cacos da nova pobreza.

massageio os cotovelos, que faltam
nas frases que um dia foram de luta.
agora inauguram a fase antecedente
de uma morte por dia, sem emoção.

vontade de engolir, de beijar, de ir.
para onde foram sem me dar aviso?
livros cansam as prateleiras, caixas
entopem as veias um dia pulsantes.

restaria alguma coisa talvez na frase
desavisada da qual a grande surpresa
seria a boca ressequida, saliva lateral,
que faz do futuro um risco desbotado.

é puxar o trago dessa respiração difícil,
inclinar o rosto, à espera do improvável,
para dizer justo o que não deve ser dito:
raspar a panela do peito, sem os braços.

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