os camelos, repare, estão sempre
de olhos abertos, calmos, olhando
para a linha do horizonte, à espera
da volta do milagre, primeiro deus
que havia dado calma aos camelos,
e não são mais camelos, somos nós
que perdemos calma, deus, os olhos,
mas não há pressa ou mais horizonte,
há sim uma urgência trepidante que
cala para dentro e não temos patas
nem essa mastigação sem vontade,
esse eterno sorriso dos que sabem.
só a mesma promessa, de que algo
voltaria para nos buscar e nos tirar
uma vez desse deserto frio sem noite
nos confins da Mongólia, onde todos
sorriem, pois, como camelos, sabem
que isso tudo é nada, é resto de pele,
horizonte que é feito de toda vontade
de olhar, satisfeito, o que não se toca.
16.3.09
12.3.09
"aleijão"
peço calma, mas não quero calma.
a vida, calma, é miserável demais.
mas a violência com que eu sonho
e que não é violência banal do sexo
nem a violência do atropelamento,
ela exige a nossa pele, a nossa cruz.
não quero, calmo, carregar a cruz.
quero poder desviar e fugir, pois que
somos fugas dentro de caixas ósseas,
ossos estes que, às vezes, servem
para nada além de carregar até sabe-
se lá onde o que já não se conhece.
tenho pressa, mas não tenho fome.
contradição bisonha correr sem bolas.
ter que antecipar o tiro com sangue
das muitas visões desejadas, nunca
tidas em sintonia com nosso drama,
porque precisamos de drama, drama,
do contrário as agulhas nas artérias,
a chance de marfim, nunca almejada.
repetir nunca, nunca, nunca, nunca,
porque o SIM virá feito uma bomba
e rachará ao meio a retina de gesso,
e chutará o poste para aleijar a dor.
a vida, calma, é miserável demais.
mas a violência com que eu sonho
e que não é violência banal do sexo
nem a violência do atropelamento,
ela exige a nossa pele, a nossa cruz.
não quero, calmo, carregar a cruz.
quero poder desviar e fugir, pois que
somos fugas dentro de caixas ósseas,
ossos estes que, às vezes, servem
para nada além de carregar até sabe-
se lá onde o que já não se conhece.
tenho pressa, mas não tenho fome.
contradição bisonha correr sem bolas.
ter que antecipar o tiro com sangue
das muitas visões desejadas, nunca
tidas em sintonia com nosso drama,
porque precisamos de drama, drama,
do contrário as agulhas nas artérias,
a chance de marfim, nunca almejada.
repetir nunca, nunca, nunca, nunca,
porque o SIM virá feito uma bomba
e rachará ao meio a retina de gesso,
e chutará o poste para aleijar a dor.
8.3.09
“In the footsteps of the walking air” (Kenneth Patchen)
In the footsteps of the walking air
Sky's prophetic chickens weave their cloth of awe
And hillsides lift green wings in somber journeying.
Night in his soft haste bumps on the shoulders of the abyss
And a single drop of dark blood covers the earth.
Now is the China of the spirit at walking
In my reaches.
A sable organ sounds in my gathered will
And love's inscrutable skeleton sings.
My seeing moves under a vegetable shroud
And dead forests stand where once Mary stood.
Sullen stone dogs wait in the groves of water ...
Though the wanderer drown, his welfare is as a fire
That burns at the bottom of the sea, warming
Unknown roads for sleep to walk upon.
Unknown roads for sleep to walk upon.
********** tradução Leonardo Marona**********
“Nos passos do vento andante”
Nos passos do vento andante
Proféticas galinhas celestiais tecem trajes de puro medo
E encostas suspendem asas verdes em macabra viagem.
A noite em sua pressa macia espanca os ombros do abismo
E um único pingo de sangue escuro cobre a Terra.
Agora é a China do espírito andarilho
Ao meu alcance.
Um órgão em luto ressoa em minha vontade acumulada
E o inescrutável esqueleto do amor canta.
Minha visão se move por baixo de um abrigo vegetal
E florestas mortas estão onde um dia Maria esteve.
Raivosos cães de pedra esperam no pomar das águas...
Ainda que o andarilho se afogue, seu bem-estar é feito um fogo
Que queima no fundo do mar, desgelando
Estradas desconhecidas para o sono andar sobre.
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