não me peça, terapeuta,
que eu me faça em vidro,
que eu me comprometa.
estavam todos ali, posando.
todos com nome, biografia,
uma história, um engano.
todos com poemas publicados
em russo, aramaico, mandarim.
todos feito bustos fálicos de marfim,
apresentando um trabalho estilístico,
sendo senhores joviais e sorridentes,
ou soturnos em polaroides acidentais.
lembro-me de como ontem, poetas,
percebi que não poderia ser como vocês.
percebi enfim que minha dor não era
tão bonita, tão sonora quanto a de vocês.
percebi também que, além da poesia,
não conheço o sorrir, não tenho biografia.
engano de leigo pensar que justamente
no susto sem-biografia está a semente,
o sorriso secreto da poesia sem hora,
a poesia que sangra, que já não dorme.
19.3.08
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2 comentários:
e que é psicologia.
cara, me liga, vem pra sampa, tenho uma vida inteira pra beber!
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