“Entre os olhos e a coisa
cai a sombra,
e essa sombra
é a palavra pré-gravada”
(William S. Burroughs)
cai a sombra,
e essa sombra
é a palavra pré-gravada”
(William S. Burroughs)
...e você não está ali quando mente de costas, dentro da noite e minha reticência beatificada no caos urbano, em gritos e olhos cheios de incompreensão e mãos pegajosas que tremem facas sem fio, mas ouço o teu trabalho alheio, ouço teu barulho falho, essa espécie de ronronar dos infernos, um estalo no desapego do desassossego do sexo que bateu asas, como se o som fosse da fricção da coisa vindo, como se o declínio estivesse próximo do corpo inchado, adormecido de meios-fios, meas culpas, comedores cabisbaixos de paralelepípedos, em tom surdo e seco, devastador como a flor que não passa de plástico em olhos abertos de vidro, como nós, como um saco de ossos que se pulverizaram dentro do amor assusta-dor, quem me assusta é o som do que sai de dentro como meteoro explícito na carne sudorípara do teu desamparo repentinamente próximo, dedicado a mim este ruído, um som de tropeço e absinto, um som casal de poetas falidos em praças públicas, onde crianças não sabem o demônio que as espera e sorriem, sinto a tiara do ódio castrado presa à falha do couro cabeludo, e nem sei o que digo, é verdade, mas quem souber melhor do que eu tampouco deveria dizer, pois se sabe, contente-se, e boa passagem, mas sinto o vento deste rumor estrondoso no ouvido vindo de pontos suspensos em coletas digressivas na paz forjada da calma daquele sussurro banido do qual nem mais lembramos, este barulho abafado de sonhos se chocando, que faz suarem os meus sentidos e derrete minhas necessidades imediatas, que me faz ver santos nas esquinas das palavras desnecessárias de que tanto preciso para morrer nada além de aflito pela placidez da paz compulsória, som vazio e seco, som do seio surdo que não sai da tua sonora suposição de mim, por mais que eu tente te arrancar do vácuo deixando meu vermelho no teu braço, que pise fundo na imensidão da tua dúvida, dos abraços distorcidos em concordâncias desleais, na busca por migalhas do que de mim só existe em bocas entrecortadas no momento do choro despercebido no escuro do quarto, quando sou eu que tenho os dentes brilhantes e brancos, pavorosamente brancos, como Vlad Tepes da Romênia, no teu mundo de calcinhas e meias-calças vermelhas do qual fui mutilado pela faca das decisões sem ressalva, do que não volta atrás depois que se ouve o som, os cabelos em choque paralisando o tempo eterno, a espinha que se contorce no eixo sujo da tristeza irrevogável em movimentos tetraplégicos necessitados de um porém que não se quebre, apenas mais um garoto tombado na esquina do agora ou nunca, e é sempre este o som quando um coração se parte, quando um irmão desconhecido tropeça enquanto pensa em quem ama loucamente porque lhe deixa calmo, inconsciente como vim e como vou, na nulidade tranqüilizante, nos assobios dos caridosos embriagados, entre as árvores que acompanham o momento do som mais sorte da próxima vez, pernas como foices cálidas ou um sorriso rápido emprestado que mutila, quando as palavras se calam e entendo a verdade que grita e que nada pode ver, enquanto for apenas, e não tudo, tarde demais.
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