Os pés dizem tudo que o coração esconde. Passo na rua olhando para baixo e todos pensam que estou triste, ou que acabei de matar alguém. Gosto de imaginar que as pessoas possam ter essa impressão, de exalar um odor assassino, por mais que as pessoas dificilmente venham a ter qualquer impressão honesta. Afinal, uma impressão honesta custa caro – e só com hora marcada.
O que ocorre é que pelos pés imagino um mundo melhor, mais bem definido. Uma unha encravada, um coração partido. Um dedão esfolado, tempo demais à beira do abismo. Duas unhas descascadas, um amor descuidado. Unhas bem pintadas e polidas, traição ao marido. Unhas lisas, bem feitas, mas sem tinta, tentativa de rever os pecados. Pés de dedos finos e esbranquiçados, com canelas mortas de pele quebradiça, cocaína em frente a um aquário com um peixe morto de fome. Calcanhares... Bom, nesse caso o apaixonado sou eu.
A barriga da perna me faz pensar em filhos, aquelas criaturinhas formidáveis que estragamos porque pensamos se estamos fazendo o certo, e só o que conseguimos é reprimir aqueles olhos enlouquecidos, aquelas caras lisas, enormes, que obviamente acabam se escondendo em algum lugar – normalmente no bolso do jaleco de algum psiquiatra com mau-hálito e brotoejas no pescoço.
Mas hoje, quando saí de casa, o dia estava dublado, de uma dublagem iraniana numa repetição contínua de movimentos desesperados. Talvez fosse uma danceteria, onde os pés comprovam que os corações enlouqueceram. Sofro do que chamo de Síndrome dos Sintomas Incorporados. De fato é mais difícil ser triste impunemente quando há uma criança desnutrida contraindo cólera na Faixa de Gaza.
Há perguntas que sempre tive a curiosidade de fazer, mas tenho dificuldade com as palavras. Do tipo: você pode ao mesmo tempo querer o meu bem e ficar perto de mim, ou é possível ficarmos juntos enquanto quisermos o bem?
No fim pegamos umas mentiras, disfarçamos de verdade, e temos utopia, mitos, vida e morte, e dançamos.
O que ocorre é que pelos pés imagino um mundo melhor, mais bem definido. Uma unha encravada, um coração partido. Um dedão esfolado, tempo demais à beira do abismo. Duas unhas descascadas, um amor descuidado. Unhas bem pintadas e polidas, traição ao marido. Unhas lisas, bem feitas, mas sem tinta, tentativa de rever os pecados. Pés de dedos finos e esbranquiçados, com canelas mortas de pele quebradiça, cocaína em frente a um aquário com um peixe morto de fome. Calcanhares... Bom, nesse caso o apaixonado sou eu.
Mas hoje, quando saí de casa, o dia estava dublado, de uma dublagem iraniana numa repetição contínua de movimentos desesperados. Talvez fosse uma danceteria, onde os pés comprovam que os corações enlouqueceram. Sofro do que chamo de Síndrome dos Sintomas Incorporados. De fato é mais difícil ser triste impunemente quando há uma criança desnutrida contraindo cólera na Faixa de Gaza.
Um comentário:
Bravo, Joe, mas voce nao passa por assassino e sim por gandula de segunda divisao. Te liguei mas parece que seu celular ta com problema. Hoje pretendo ir la na jam session. Se quiser, me liga. Ate.
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