22.4.07

"Sejamos Todos Medíocres"

As pessoas deveriam ser mais medíocres. Demos um nó na cauda da cobra naja. As pessoas, no desespero de serem tratadas como entidades, num deserto de concepções irrealizáveis, tornam-se cruéis e maliciosas, passam a vida em disputas comezinhas, jogando alto com cartas marcadas. Apenas qualificando a mediocridade como desejo pelo comum viável, poderemos abandonar nossos umbigos preocupados com a eternidade e olhar para o nada que acena da outra esquina, o nada gigantesco que o delírio da nossa auto-deificação, usando deus como bode expiatório, programou em nossas vidas com uma contagem mecânica e destoante dos pedaços de tempo. E o que antigamente seria considerado uma opção conservadora – sermos medíocres com todas as nossas forças – hoje é a nossa única opção revolucionária, pois os mortos se apossaram dos vivos e os olhos já não sabem o que codificam, e quando os deuses se tornaram semanais, apenas em horário nobre, na loucura da atenção retribuída nossa única saída para evitar o extermínio da alma é ser, acima de tudo, o mais medíocre possível ser humano da face da Terra. E até os cientistas disseram que os chimpanzés tiveram uma seleção genética mais positiva que nós. Estamos então atrás do melhor não arriscar. Nada mais perigoso que uma pessoa medíocre com ambições grandiosas. Vejam Hitler, vejam Nero, vejam Antonio Salieri, vejam George Bush, pai, filho, espírito santo, cale nossa boca antes que seja tarde – ou tanto faz – e vejam a luta pela paz. Depois me digam.

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