27.3.07

"carta de um estudante de belas artes"

“só a emoção perdura”

Ezra Pound



Ezra Pound dizia
nos seus ensaios sobre poesia
que a poesia era uma ciência
assim como era a química.
ele acreditava piamente
no ritmo absoluto
de cada homem.

nas formas sólidas e fluídas do poema
– como árvore ou água despejada –
concebia a poesia como arte pura
e cada homem como seu próprio poeta
sem diferença entre amadores e profissionais.

dizia que não devíamos esperar demais
por ter nosso valor artístico reconhecido
antes de havermos descoberto algo novo.

dizia que devíamos ler os franceses,
sobretudo os gregos, os florentinos,
que devíamos ler Confúcio inteiro,
Homero inteiro, as versões latinas,
Ovídio e os poetas latinos “pessoais”
Catulo e Propércio.

ele veio do alto e nos disse, pousando:
não percam tempo com o que não presta,
vão direto até o talo do osso primordial.

não esquecer de Villon
(um esboço de Renascença, sinos medievais)
nem de Voltaire, Stendhal, Flaubert, Gautier,
Corbière – Corbière? – Rimbaud.

devíamos ocupar nossa juventude com isso,
nada além de três ou quatro anos, os únicos.

o pupilo Eliot, cabelo dividido ao meio, espinhas,
disse que “nenhum verso é livre para quem queira
fazer um bom trabalho”. Ez aplaudiu emocionado.
Pound esperava do futuro uma poesia mais austera,
versos diretos, geométricos, sem deslizes emocionais.

ah, que se foda Pound!
eis a sua poesia austera...

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