16.2.07

"o primeiro movimento"

(Jean Sibelius, 1927)



se roleta russa fosse nosso destino
ficaríamos pela eternidade ligados
a toda sorte de parasitários em vidas
(literárias ou enfadonhas) condenadas
a abandonos alados em becos sem saída
onde tiros sem mira acertariam corpos
perpetuados na dor de uma vida infinita
em artifícios e armadilhas lindas como

o primeiro movimento
da primeira sinfonia
de Jean Sibelius

que ouço agora e que me denuncia
silenciosamente enquanto lá fora
do lado de lá do meu aqui dentro
vem com o vento a voz de um homem
que estaria gritando por ajuda enforcado
pelas tranças violentas de sonhos úmidos
azuis de um mistério tão claro e tão fundo
quanto o fogo da pureza que nos cega.

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