14.2.07

"na praia dos séculos morremos"

vagarosamente
vago esbaforido
e mergulho no ritmo
silente e crescente
(murmúrios de gritos)
descalço das certezas
do chão das sombras,
navego cadáveres e
alimento o pão ilícito.

o que a morte não compreende,
perdida para sempre em seu capuz ensopado,
é que nos sonhos do decapitado,
ou daquele que no sonho perdeu os dentes,
eu apontava, findo em mim mesmo,
aos que, sem saber como, perderam o rastro,
tendo seguido, porém, em frente.

o desespero é que a vida não cobra pedágio.
a vida é o carro que estourou as cancelas
da estrada por onde não passam mais carros.

e - pobres de nós! - com os olhos acesos
de acessos interrompidos e macas vazias,
tateamos com lágrimas o orvalho negro
que cobre nossa esperança diária de poesia
como o pano que cobre o bêbado abandonado,
aquele que morreu, abstrato, na praia dos séculos
(cujas ondas ainda tombam para escoar a língua)
dos que do fundo enxergaram as veias azuis da vida.

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