houve um dia,
apenas um dia
numa tarde escura,
em que engoli as nuvens:
o dia em que fui um deles.
e chorei sozinho por dores impossíveis
e tingi de preto meu coração por olhos amargos
e cuspi nas curvas de um destino insólito.
houve um dia,
apenas um dia
nos olhos da têmpora,
em que corri até o fundo
da biblioteca do ensino secundário
e com a falsa impressão de minha falsa modéstia
e a nítida sensação de estar sendo perseguido,
olhei em volta, as pessoas pareciam boiar
– elas também me olhavam!
houve um dia,
apenas um dia
em que todos boiavam,
e todos nos olhávamos porque
tínhamos entrado numa guerra suja.
mas tínhamos os planos desenhados
nas costas das mãos que nos batiam.
era um mundo duro, todos olhavam
por necessidade de ajuda.
sabíamos (mas ainda não sentíamos)
o peso da onda avassaladora da vida.
tínhamos medo, nossos peitos ardiam,
tínhamos nas mãos a prova do crime.
houve um dia,
apenas um dia
em que fui sensível,
quando no fundo escuro
da biblioteca do ensino secundário
encontrei um meu irmão de sina
nas páginas do “Crime e Castigo”.
então chupei o sangue da boca celeste
e vivi a beleza de algo que foi arrancado
pelas horas em que sofri de dor não minha,
mesmo que no fundo dor minha também fosse,
pois que sou filtro e cinzeiro do mundo,
mas o mundo é pesado e cinza demais
– esgarça o filtro.
por não saber o que era coragem assumi a batalha,
no fundo de uma biblioteca do ensino secundário.
e totalmente necessitado, estranho a mim mesmo,
pensei nos que, com muito mais habilidade,
também tiveram medo.
31.1.07
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4 comentários:
saudade!
O trampo deve estar foda. 5 dias sem novas leituras suas. Triste, mas espero que valha a pena. Beijos e feliz um ano a menos de vida! =D
..talvez você ainda seja!
gicangica, você não pode imaginar... aliás, eu não posso imaginar. sou um corpo feito nem de carne mais. sou uma vaga idéia do meu destino trágico. procuro a beleza, me diz onde ela está.
te agradeço, um beijão de tutti-frutti.
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