7.12.06

“falação & felação”

Acontece que aquela famosa máxima do Rei Roberto Carlos – “eu tenho tanto pra lhe falar / mas com palavras não sei dizer” – não passa, infelizmente, na maioria dos casos, de uma grande cascata. Uma forma cínica de camuflar a falta de emoção com lirismo barato. Sei muito bem que alguns amigos e muitas donas de casa me julgariam mal por isso, mas não é possível ceder, depois de pensar com um pouco mais de atenção; seria vergonhoso, apesar de fácil.

Mas o que ocorre de fato é que, quase sempre, há muito pouco para se falar e menos palavras ainda para se dizer. Mas existe a vontade, esse dragão sem garganta, essa louca vontade de mergulhar na superfície, de encontrar um espelho indiferente, uma cápsula para a beleza com a qual até os livos já se aborreceram, e que portanto tornou-se anacrônica e teatral.

Talvez seja por isso que Roberto Carlos atinja em cheio os corações enregelados das melancólicas donas de casa, bonitas na sua tristeza roxa debaixo dos olhos, prateadas de perdão, debruçadas em sonhos fadados e pilhas de roupas sujas, que elas lavam desde o começo dos temos, enquanto o outro lado sente que não vale mais a pena deixar de se enganar.

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