16.12.06

"enquanto o seu lobo não vem”

Parque da Redenção, Porto Alegre – mas nem tanto – tarde sem sol.

Aqui estão os punks sem gestação, os rapazes republicanos que põem fogo nas gargalhadas sem fôlego para uma vela de sétimo dia, as barbas assustadas e pedófilas, submersas em capas de vinil, as meninas tristes como trapos de maquiagem e coquetéis químicos, estampadas em lágrimas de sépia, os garotinhos tristes em dúvida sem dúvida lambuzados de batom sonhando com Ziggy Stardust e morrendo nos pêlos da grama fugidia. Aqui estão os meninos trêmulos e descolados ancorados nos seus calções de basquete e com bolas rodando nas pontas dos dedos, as meninas ainda desconfortáveis com seus peitos recentes e seus colares de espinho. Aqui estão as fezes da transição (contra-revolucionária? quem saberá dizer?). Aqui estão libélulas suicidas calçando tênis all-star de cano longo, varejeiras em saltos ornamentais para o futuro numa estalactite, os ligeiros instantes sombrios seguidos pelo vendaval violentado até levantar o chão de saibro ou terra batida sobre as caras das pessoas abatidas por saberem o que não querem saber e não saberem o que precisam saber, de modo que choram diante das luzes inconstantes e das estátuas cansadas, todas enclausuradas nas próprias equações para um mundo novo consciente e ao mesmo tempo cheio de ternuras e abismos. Aqui estão as velhas teorias vestidas com roupas velhas para parecerem novas quando deveriam estar nuas, vestidas apenas com olhos d’água.
E fico depois horas pensando se é para o meu consolo que vejo por último o busto com abas sulfúreas de Alberto Santos Dumont – logo a frente uma roda de capoeira inaugura mais uma cláusula social.

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