mundo gerúndio:
aliteração do caráter
de um grito morfológico
no silêncio onomatopaico.
muito cuidado, é claro
sempre é necessário.
arredores pelos ares
das dores de arredar
o pelo menos o mesmo
verbo que arrasta afoito
o nosso medo morto.
enquanto isso omitimos
dores, amores, Plutão
Platão, miragens, pestes
epidemias, enchentes, sonetos...
mais ainda, nós damos um jeito
de fazer com que certos olhos
nos forcem a pertencer a pastas.
mundo gerúndio:
sujeito abstrato na
cocaína sem rima
de feridas gengivas
infinitivas de noites
há pouco mal-dormidas
em espelhos canhotos
de sonhos impessoais.
mas existe essa gente verbal
cujos queixos nos apresentam
nada, além de uma geléia geral
sem Torquato nem quarto de lua
escravidão semântica que gruda
no desprezo das solas dos anos:
“viver é lutar”
“lutar é poder”
“poder é amar”
“amar é viver”.
mas meu emprego
não é particípio
e nem poderia.
não forma futuro
do subjuntivo
porque poesia.
verbos são berros
no fim dessa feira.
são certos e cegos:
silêncio de cera.
ecos anômalos
defectivos
unipessoais
nominais
irregulares
auxiliares
secos de crase.
como pó
como nós
como frases.
3.10.06
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