5.9.06

"útero"

uma linha me disse que como bêbado sou um sarro,
a linha seguinte, que como bêbado sou um chato,
mas mesmo sabendo que seria criticado
pelas mães que não tiveram filhos
e pelas esposas sem maridos,
e pelos versos dos meus poetas favoritos,
preciso (ou precisos: esses poetas...)
dizer que meus olhos precisam de vinho
para poderem sintonizar outros olhos violetas
que se enchem da água que se precipita
para poder sem precisão se encher da mais precisa
agulha em forma de gaivota e dizer ao mar:
“isto é simples e displicente como a água”.
e mesmo quando o rio seca e a cachoeira
torna-se placa de pus na garganta aveludada
em meio ao fim das pedras
que antecipam a natureza,
ou uma bandeira de frases sem Bandeira,
como se tudo isso que funciona sem frases
seguisse aflitivamente a palavra equivocada
atrás de olhos carnívoros que me enxergassem,
assim mesmo desdigo surdo, para dentro do útero.

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