às três e vinte da madrugada
vi que as pontas dos meus dedos arroxeavam
e logo em seguida, derrubei minha garrafa.
no rádio, uma voz aveludada saudava uma ouvinte:
“bom dia, Gislaine... você está ao vivo conosco. em que posso lhe ser útil?”
depois do chiado, vacila uma voz fina e triste de mulher mal-amada, eclipsando:
“boa noite, seu Vadão...”
“sim, Gislaine, boa noite...”
“é Gisleine, seu Vadão...”
“tudo bem, Gisleine, do que você precisa?” – disse o veludo, já meio camurça.
“olha, eu queria dizer que eu adoro o programa e que escuto o senhor todo os dias”.
“muito bem, Gisleine... grato pelo carinho. mas diga o que você quer”.
“eu preciso de um marido, seu Vadão. Um que tenha entre 35 e 55 anos...
pode ser calvo, pode ser barrigudinho, não tem problema, que beba!
mas não pode ter barba – que espeta, a menos que seja comprida, macia
– que eu adoro limpar barba suja de sopa –
de preferência que fale pouco
e seja simpático a troco de nada, mas não um boca-aberta,
e que saiba limpar a mesa e não durma de meias”.
a rádio saiu de sintonia
enquanto eu enxugava o vinho
no carpete com a língua,
quando pensei em telefonar para o Vadão
e me candidatar como marido de Gislaine
– ou Gisleine –
mas tive que desistir da idéia
porque não estava dentro da faixa etária.
2.9.06
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4 comentários:
HAHAHAHAHA !!!!!!!!
NÃO SE PODE TER TUDO NÃO É MESMO?!
BEIJOS SR. MARONA
Muito bom Leo... um dos melhores... presente para um domingo nublado. Beijos, Tati
Psicologicamente voce ja passou dos 55, Kojak. Beijos.
De uma coisa tenho certeza, não faltarão Gislaines pelos caminhos tortuosos...
Naira(ainda viva)
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