11.8.06

“noite fria em que a vida voa pela janela aberta”

Oh, música entre pétalas
Não afugentes meu amor!
Mistério maior é o sono
Se de súbito não se ouve o riso da noite
(Vinicius de Moraes)


folhas de um verde indeciso
regurgitam
caleidoscópios de papel.

eu tento soletrar com asma
aquilo que só o vento com asas
pode explicar sem palavras.

imagens borradas do inverno
– estátua cravada no peito –
de ti já não mais se lembram
e por ti já não mais espero
porque perdi rastro de mim mesmo
e sendo assim – me disseram
é melhor ficar louco e esperto
e não me interessa ser esperto.

– escute aqui, guri, o mundo é dos espertos!
eles me gritam como se fosse certo
compreender.

nesse caso prefiro ser pouco esperto
como essas folhas escandalosas
que me piscam seus olhos de fibra
e pisam minha sombra esquálida
e se riem do meu pobre destino
mas solidariamente me convidam
para uma valsa em chão de pólen
num santuário de perdição alada
que me afasta desse mundo órfão:
essa terra de espertos sem dono
que guardam seus olhos mortos
costurados no fundo dos bolsos.

Um comentário:

Anônimo disse...

"...a felicidade é uma gota de orvalho, numa pétala de flor..."

m.