19.7.06

"O pensamento de Orson Welles"

* os trechos compilados abaixo são recortados de uma entrevista que Welles concedeu para a edição de número 87 da Cahiers du Cinemá, em setembro de 1958. Os entrevistadores eram André Bazin, Charles Blitsch e Jean Domarchi.

"A condenação é cerebral. E isso complica-se pelo fato de eu representar o papel dos meus condenados. Agora, irão me dizer que um ator não representa nunca senão o seu prório papel. Quando se representa uma personagem, começa-se por lhe tirar aquilo que não é pessoal, mas nunca se lhe põe algo que não exista. Nenhum ator pode interpretar outra coisa a não ser ele próprio. E assim com certeza, em todas as personagens, acontece sempre Orson Welles. Aí nada posso fazer: é ele que representa, não só fisicamente, mas Orson Welles. Assim, deixo de lado uma parte das minhas crenças políticas, morais, ponho um nariz falso, faço tudo isso, mas fica sempre Orson Welles. Nada a fazer quanto a isso. Ao acreditar muito nas qualidades cavalheirescas, quando represento o papel de alguém que detesto. Esforço-me em ser muito cavalheiresco na minha interpretação”.

(...)

“Espero que haja uma unidade na minha obra, porque se o que fazemos não nos pertence como nossa carne e nosso sangue, então não tem interesse nenhum. Creio que qualquer obra é boa na medida em que exprime o homem que a criou”.

(...)

“Devo dizer que me interessa mais o caráter do que a virtude. Podem chamar a isso uma moral nietzschiana, como eu lhe posso chamar aristocrática, por oposição à burguesa. A moral burguesa sentimental causa-me nojo: prefiro a coragem a todas as outras virtudes”.

(...)

“Não gosto de cinema, salvo quando filmo; então, é preciso saber não ser tímido com a câmera, violentá-la, forçá-la até aos últimos redutos, porque ela é uma vil mecânica. O que importa é a poesia”.

Outras curiosidades:

. o filme preferido de Welles é Vítimas da Tormenta (Sciuscià, 1946), de Vittorio di Sica.
. seu escritor preferido é Montaigne, considerado o inventor do ensaio pessoal.

Um comentário:

Anônimo disse...

me identifico muito. o nojo pela moral burguesa sentimental também sou eu.