29.6.06

“mãos fantasmas”

hoje nessa tarde fria
de apitos envenenados,
quando a única companhia
é o cochicho dos sapatos,
sinto a falta de um lenço.
e na falta de um lenço,
escreverei essas linhas.
e na falta de lágrimas,
farei de sangue a tinta.
e na falta das tuas mãos,
seja você quem for e se foi,
mãos esquecidas na virada
de uma esquina sem aviso
de que seria para sempre difícil,
(incompreensão forçada a letras)
na tua falta e na minha falha preciso
das minhas próprias mãos manetas,
malditas ciganas que nunca serviram
a não ser para chorar através de dedos
se esconder no ataque de veias cinzas
e procurar por dentro da terra escura
do meu próprio esquecimento
a ternura inútil de que tanto falam
os fantasmas com os quais converso
para saber se sou mais um deles,
ou se nem para isso presto.

2 comentários:

Anônimo disse...

você já imaginou que nas mãos que se foram poderia estar justamente a ternura inúltil de que tanto falam? alguma coisa me diz que sim... assim como diz que a ternura é muito mais útil do que poderia supor seus amigos fantasmas...

leonardo marona disse...

tereza,

você que sabe como coagular sentimentos, sabe melhor do que eu que existe um certo esquecimento, uma vírgula inapropriada, uma síndrome por antecipação que sempre corta nossa imaginação roubada, como uma memória que enlouqueceu.

cuide-se.
e um beijo pra ti e obrigado pela leitura.