24.6.06

"legítima defesa"

me esforço em saber se existo,
queimo no fogo de boas idéias mal-conduzidas
enquanto todos em volta endireitam suas vidas
e se adaptam a rumos coletivos.

desdizem o que diriam se não fosse ontem,
cancelam a chance de enlouquecer sem asas,
desmentem aquilo que os faz noite em claro.

sorrio com esforço para o que dizem sobre mim:
que sou abstrato, rancoroso, pesado, indisposto,
antipático, irônico, cínico, romântico, falso, leigo,
tudo aquilo que julgam porque são e não podem ser.

aceito tudo com a indiscrição dos olhos chineses
e o sorriso legítimo de um surdo abençoado.

outra coisa – uma palavra – seria exigir muito
de quem não pretende saber a que veio.
e tem tanta curiosidade de ser como outros,
que dizem tanto do que são capazes de ser,
do que podem subverter em mágoas repartidas,
do que seriam não fossem feridas cobertas de pó,
todos tão amáveis, tão seguros, tão corretos...

mas não posso bocejar agora.

todos discutem sobre o que deve ser feito.
tento fazer o que é discutido – se consigo,
e discuto o que deve ser feito só comigo.

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