18.5.06

“menino tropeça e cai de costas no asfalto”

“Entre os olhos e a coisa
cai a sombra,
e essa sombra,
é a palavra pré-gravada”
(William S. Burroughs)
...e você não está ali quando mente de costas, dentro da minha reticência beatificada no caos urbano em gritos e olhos cheios de incompreensão e facas sem fio, mas ouço o teu barulho, um estalo no desapego do sexo que bateu as asas, como se o barulho fosse da fricção da coisa vindo, como se o declínio estivesse próximo do corpo adormecido de meios-fios, comedores cabisbaixos de paralelepípedos, um som surdo e seco, devastador como a flor que não passa de plástico vivo, como nós, como um saco de ossos que se pulverizaram dentro do amor assusta-dor, quem me assusta é o som do que sai de dentro como meteoros explícitos na carne sudorípara do teu pecado repentinamente próximo, dedicado a mim esse som, um som de tropeço e absinto, um som casal de poetas falidos em praças áridas onde crianças não sabem o que as espera e sorriem, sinto a tiara do ódio castrado presa à falha do couro cabeludo, e nem sei o que digo, é verdade, mas quem souber melhor do que eu tampouco deveria dizer, pois se sabe, contente-se, e boa passagem, mas sinto o vento desse som no ouvido dos pontos suspensos em coletas digressivas da paz forjada na calma do sussurro banido, esse som que sua meus sentidos e derrete minhas necessidades imediatas, que me faz ver santos nas esquinas das palavras desnecessárias das quais tanto preciso para morrer aflito na tua paz, som vazio e seco, som do seio surdo que não sai da sua sonora suposição de mim, por mais que eu tente te arrancar do vácuo deixando meu vermelho no teu braço, que pise fundo na imensidão da dúvida, dos abraços distorcidos em concordâncias desleais, na busca por migalhas do que de mim só existe em bocas entrecortadas no momento do choro desapercebido no escuro do quarto quando sou eu que tenho os dentes brilhantes e brancos, pavorosamente brancos, no teu mundo de calcinhas e meias-calças do qual fui mutilado com a faca das decisões sem ressalvas, do que não volta atrás depois que se ouve o som, cabelos em choque que paralisam o tempo eterno, espinhas que se contorcem nos eixos sujos da tristeza irrevogável, nos movimentos tetraplégicos necessitados de um porém que não se quebre, apenas mais um garoto tombado na esquina do agora ou nunca, e esse som que é meu irmão e que eu amo porque me deixa calmo, inconsciente como vim e como vou, na nulidade tranqüilizante dos assobios dos caridosos embriagados, das árvores que acompanham o momento do som mais sorte da próxima vez, pernas como foices cálidas, ou um sorriso rápido emprestado que me tomou a direção dos passos, quando as palavras se calam e eu entendo a verdade que grita que nada pode ser, enquanto for apenas, e não tudo.

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