5.4.06

“coisa pós críptica ou a caminho do trabalho”


















de Jaan Elken
Post Scriptum / Papaver Somnifer
oil, acrylic, ready-made on canvas
2001/0597 x 130 cm
quando encontramos alguma coisa, um gesto singelo que seja, uma atitude despretensiosa, qualquer coisa em suma, na qual se possa enxergar claramente sinceridade e paixão sem esforço, por mais que queiramos imediatamente passar a ter aquilo ou a ser como aquilo, é inútil no entanto tentarmos absorver imediatamente a sensação nova da coisa ou a própria coisa concreta recém descoberta. precisamos primeiro entender de onde veio a coisa descoberta. depois precisamos compreender ou dar um significado a ela. depois precisamos taxá-la, equipará-la com outras coisas descobertas que descobrimos antes, e por que elas, apesar de seu interesse particular, diferentemente desta, não mudaram nossas vidas. então, como agora, descobrimos que nossa função aqui é tentar descobrir aquilo que não está em nenhum lugar além dos nossos trilhões de cabeças solitárias.
ps: queria na verdade dizer que em vez de tentar entender é necessário deixar o corpo absorver eventuais novas sensações sobre uma coisa concreta ou sentimento forte, apenas para a cabeça não te tapear como seguidamente ela faz comigo, como agora por exemplo, quando fui obrigado a usar um post scriptum em itálico para terminar isso daqui.

3 comentários:

Anônimo disse...

eu me lembrei de um do guimarães rosa na qual o personagem se surpreende com o reflexo de si mesmo em um espelho e ali ele se vê de uma forma que ele nunca se viu antes (por causa do elemento surpresa), mas ele tenta incansavelmente re-achar aquela maneira de se ver, mas não consegue (acho que não consegue, faz tempo que eu li esse conto). certos sentimentos ou coisa coisas concreta nós não dominamos, como a existência de um post scriptum neste texto que é uma vontade de esclarecer (entender) um novo sentimento (existem novos sentimentos? espero que sim). bem, eu estou sendo um pouco confuso, mas eu gostei do texto.

Anônimo disse...

eu também gostei muito do texto. ou nos jogamos e vivemos intensamente ou escolhemos ser medíocres que nunca nem tentaram. revi ontém roma, cidade aberta e tem uma frase de um padre que está indo ser executado pelos nazistas inesquecível. um outro padre tenta o consolar pedindo para que ele tenha coragem e morra bem. a resposta do padre italiano é esta: "morrer bem é fácil, o difícil é viver bem". e ele diz isso com uma tranquilidade e uma sabedoria assustadora.

leonardo marona disse...

PODE JURAR, ME LEMBRO ATÉ HOJE DESSA FRASE. MAS A MELHOR PARTE DO FILME, PRA MIM, É QUANDO O PADRE, ENTRE A ESTATUA DE UM SANTO E OUTRA DE UMA VENUS, VIRA A BUNDA DA VENUS PARA O OUTRO LADO E FAZ O SINAL DA CRUZ, AMÉM ROSSELINI!