não sabia nada sobre a moça na mesa
o cartaz me incentivava noutra língua
ela dançava parada na minha cabeça
era uma fumaça perfumada e ambígua.
(com licença, moça, quer dançar?)
tédio imposto pela cruz da beleza
(desculpe, amigo, mas sou casada)
através da tinta pesada sob os olhos.
seu rosto era um estacionamento vazio
eu trazia o sorriso de um idiota educado
seus olhos como um pano de prato molhado
explodiam no meu pigarro de letras gagas.
ela era tão pesada quanto seus olhos
exceto pelo rosto, parecia muito bem
presa à máscara de um cigarro aceso
mãos firmes como um píer de rochas
planetas mortos feitos para necrofilia.
ainda me engano em samba de branco
aqueles vagos olhos sem nenhuma cor
argumentos de guimbas para filme francês.
a moça tinha a unha do mindinho descascada
desejos ocultos que vão sem você entender
e quando voltam trazem você pela metade
e vão outra vez para levar os cacos da noite
que se arrastam na tua pele para te lembrar
da criança tetraplégica que descobriu o amor.
mas se você, além de criança, for um homem capaz
de reconhecer uma mulher pela unha do mindinho
flor cujo caule se mantém em perigo
a nuca exposta à beira do abismo
você merece uma segunda chance.
assim como a cobra
não se arrastaria
se tivesse asas,
a profundidade
está nas águas
mais paradas.
20.4.06
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