apenas na pequena hora quando o futuro
diz “não tenho como
saber” e me encontro
completamente sozinho e
sinto vindo do cu
até o berço da espinha ou
nuca que coloquei
muitas vezes
desprotegida diante de animais ruins
e que pensam e sentem e
estão também a sós como eu
que não sou ruim mas
funciono de forma a desapontar-me
toda vez menos na
pequena hora um instante fugidio
em que preciso fechar
os olhos mesmo que esteja vendo
algo bonito e pensar
sim eu também posso fazer algo
que salve a vida porque
eu sigo em farrapos mas
construo minha grande
arte coisa absurda.
mas somos muitos que
ainda
perdemos tempo e
estamos por aqui
flutuando vez por outra
um morre
e de certa forma
sabemos abrir
nossas gavetas e criar
pergaminhos
confusos para voltar a
patinar
alguns com idílio
outros com presas na garganta
mas sabemos a ordem do
caos
colocamos nossas
pedrinhas na uretra de deus.
e vazamos eretos sempre
no plural
porque tenho medo do
momento singular
pequeno instante em que
a pequena força
que me sustenta nos
abandonar finalmente
então vestiremos as
luvas no centro
de uma paixão abdominal
de que sou raro
hospedário mas atrás
de mim há larvas
para crescerem junto à
crença pré-histórica
da pequena hora como um
sacrifício de fogo
em prol da humanização
do que surgirá ainda
como um milagre e agora
foge enquanto grita
“eu persigo” – na
direção de uma floresta densa.