sei que nossa corda é
firme,
mas é preciso mãos para
puxá-la.
vejam só como se parece
uma corda firme largada
no chão do fim de uma
década,
no chão do fim de uma
feira,
da feira que dura uma
década.
olhem bem para o chão
pela última vez no que
se fecha
e abre um novo ciclo
provisório.
a mesma corda sempre
firme
mais parece um clown
embrulhado de maldade
sem o carinho cheio de
suor
das mãos que choram
medo
e transpiram frustração
translúcida.
alguém que caiu no meio
da festa
e não houve tempo de
perceberem,
essa corda é firme, mas
sem mãos
ela fica assim como o
cigarro
que a chuva molhou
enquanto
alguém ainda pensava no
amor.
pode ser também a mesma
corda
da qual desistiu o
palhaço suicida
e que ficou ali, no fim
da feira,
largada enquanto ele
seguiu
com a cara triste da qual
se ri
o mais digno fiel da
procissão.
seguir talvez seja
puxar a corda,
com cuidado para que não
estique
a ponto de estarmos curados,
de não mais precisarmos
da corda.
e nunca mais veríamos
as mãos
e nunca mais diríamos
preciso
da sua mão para puxar a
corda.
uma corda precisa de
pelo menos
duas mãos para não ser
um chicote.
a uma corda é preciso
uma disputa
e somente um tipo de
disputa existe:
a que vale para erguer
o derrotado
e será a calma de
deuses coléricos
quando olharem
finalmente para nós.
por enquanto somos mãos
e cordas
e a terrível vontade de
simbolizar
o amor que não sabemos
entender.